17 de fevereiro de 2009

Do começo

Pronto.

3a feira da semana antes do Carnaval, e ela vai visitar a avó lá no interior, onde a casinha fica escondida em uma clareira na beira do rio, depois de tantas árvores.
A avó, que foi a primeira mulher do clã a estudar na faculdade, que fez serviço social e direito porque não queria casar com um homem e se sentir menos inteligente do que ele. Então era essa avó, que aviuvou e fugiu pro rancho, na cidade pequena e não tão distante, que ela vai visitar para esquecer um pouco desse caos da grande cidade.

Pronto. Porque ela sempre acha que visitar a avó é algum começo de alguma coisa, talvez porque ela se encontre com a história que já tinha começado antes dela. E aí ela acha que é começo. Ela só não sabe que começo é alguma coisa tão relativa quanto fim. E fica falando: "Pronto..." Como se cortasse no meio "Pronto, começou" e "Pronto, acabou". Então quem convive com ela ouve ela falar "pronto", mas nunca sabe se é porque alguma coisa começou ou acabou. Sabe que geralmente é uma expressão de alívio - porque ela gosta das coisas bem pontuadas.

Então nesse Carnaval a Magê (de Maria Eugênia, em homenagem à bisavó, que veio da Itália lavourar café) vai lá se encontrar com o seu começo e tem a sensação de estar começando alguma coisa.

Mas hoje, nessa terça, ela ainda está bem na vida louca. Parada no trânsito, dentro do ônibus, ouvindo a trilha sonora de My Blueberry Nights no celular multifuncionalç que toca música. Lapa-R mais especificamente, que sai do Itaim com destino à Lapa, mas que passa por Perdizes no meio do caminho. E ela vai se matricular na tão sonhada pós-graduação na PUC hoje à noite. Aí está. Quatro anos sem estudar depois da faculdade, e se inscreve na pós-graduação.

Pronto. Mais um começo.
Justamente em fevereiro - quando todo mundo começa a praticar as prometidas mudanças da noite do dia 31, depois daquela leseira quase espásmica que atinge grande parte das pessoas nos janeiros sem trânsito. Aliás, existe toda uma teoria de que o ritmo da vida em São Paulo é diretamente proporcional ao número de kms congestionados que o CET indica. Então voltou o trânsito e a Magê está justamente nele - no trânsito, na Faria Lima com a Cidade Jardim, indo começar uma de suas promessas de Ano Novo (ela gritava, pulando as sete ondinhas e fazendo papel de nerd-louca: "em 2009 eu volto a estudar!").

Tocou o telefone e era justamente quem ela não queria conversar naquele exato instante, perdida em devaneios, dentro do ônibus: o chefe, brutamontes escandaloso. Deixou o celular tocando. Se entreter com as cenas daquela esquina, naquele instante, era muito mais interessante.

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